lundi 31 janvier 2011
Treze contos...e um.... de Frei Betto
De TREZE CONTOS DIABÓLICOS E UM ANGÉLICO:
Foi ao fim de três meses que Viriato começou a perceber que a sua pena não era tão leve quanto pensara. Sua imaginação refluía. A TV não era mera transmissora de atrativos.
Tratava-se de um ente real que imaginava por ele, pensava por ele, sonhava por ele, raciocinava por ele, sequestrando-lhe a identidade. Um vazio instalara-se no âmago de seu ser. Ele estava hipnotizado pelo aparelho e o fluxo das imagens impregnava-lhe os olhos, a mente, o cérebro, as entranhas, descosturando-lhe a subjetividade.
A sucessão infinita de clipes publicitários corroía-lhe a alma. Viriato tinha ânsias de consumo e, no entanto, estava impedido de acesso ao mercado. E o seu desejo desenrolava-se como um fio infinito. Seria menos doloroso se a sua autoestima não estivesse sendo minada dia a dia. Não possuir aqueles produtos que conferiam valor a seus proprietários acarretava-lhe um sofrimento que lhe parecia sempre mais insuportável. Sentia-se um faminto diante de farto banquete, mas com a boca irremediavelmente costurada.
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