Escola Nacional de Arte
Graziella Pogolotti • La Havana, Cuba
Fotos doArchivo
Às margens do rio Quibú, na periferia de Havana, as zonas de verde prado fazem lembrar o antigo campo de golfe. As instalações do Country Club ainda se conservam, um pouco modificadas pela necessidade de adaptar espaços para aulas de música. No ambiente bucólico, alguns estudantes fazem seus exercícios de violino. A paisagem, porém, foi transformada pelos perfis de insólitas construções, desenhadas em contra-corrente ao funcionalismo. Obra dos arquitetos Ricardo Porro, Vittorio Garatti e Roberto Gottardi privilegiaram os valores expressivos e a tradição artesã em detrimento da busca da eficiência tecnológica. Recuperaram as texturas e o cromatismo do ladrilho. No início dos anos sessenta do século passado, romperam com a ordem implantada pelo desenvolvimentismo cientificista. O projeto monumental era a afirmação tangível de uma vocação terceiromundista.
Ainda inconcluso, estrutura aberta para o porvir, constitui em mais de um sentido a concretude da imagem simbólica da Revolução cubana. A transgressão das normas dominantes na arquitetura local, assim como a aposta em favor do futuro guardava estreita correspondência com o destino previsto para a obra. Nesse lugar, em diálogo cotidiano com a natureza e em intercâmbio permanente entre as artes visuais, o teatro e a música haveriam de produzir-se na aprendizagem de novas gerações de artistas.
Desde o primeiro momento, a execução do projeto suscitou ásperas polêmicas, precursoras de muitas outras. O custo excessivo parecia um desafio à racionalidade. Esgotados os fundos, os trabalhos foram interrompidos até reiniciar-se o amanhecer de um novo milênio. O desdém pela funcionalidade também teve seu preço. Os estudantes de pintura trabalham a contraluz. Fechada em si mesma, a escola de teatro abarca em seu labirinto uma pequena comunidade. Mesmo assim, nas instalações ocupadas agora pelo Instituto Superior de Arte, gerações de artistas forjaram seus sonhos e seguem encontrando ecos de nostalgia.
Visto à distancia, o conjunto arquitetônico das escolas de arte de Cubanacán resulta uma encarnação tangível da utopia, reflexo da atmosfera intelectual de uma época e espaço propício para elucidar as inevitáveis contradições desencadeadas pela marcha de um projeto de transformação da sociedade.
Seu excesso de desafio contém e tenta superar alguns traços característicos do subdesenvolvimento, tema recorrente no início dos anos sessenta do século passado, tal como foi abordado pelo conhecidíssimo filme de Tomás Gutiérrez Alea, que se transformou em um clássico do cinema latinoamericano*. Se tratava – em termos econômicos e também culturais – da extrema polarização entre uma cabeça hipertrofiada e a fragilidade das extremidades que a sustentam.
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Nota:
* Filme Memorias del subdesarrollo, de Tomás Gutiérrez Alea.Veja:
http://www.lajiribilla.cu/articulo/cupulas-campo-de-golf
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