A arte de Francisco
Yolanda Wood
Diversa e colorida, a arte de Francisco é um fragmento de cubanidade no espaço parisiense. Uma obra sempre viva e latente pela inspiração cultivada na tradição e na cultura que provêm da memória conservada, porém também enriquecida em cada novo encontro com sua terra e sua gente.
Em seu imaginário afloram os motivos que definem essa identidade, porque é o artista que não escapa ao entrelaçado de vivências que, chegadas de sua ilha, ao mesmo tempo distante e próxima, o acompanham sempre.
Com um leque de possibilidades expressivas, o artista cativa a sensibilidade do observador porque seus planos de cor são amplos e sinceros, com um atraente manejar das áreas, extensas e bem desenhadas em composições equilibradas, enquanto uma linha curiosa desliza para definir formas sugestivas e dotar as imagens de uma expectativa dinâmica. Não faz economia no uso de uma variedade de meios, que combina e explora com segura ingenuidade para sempre fazer da superfície artística um recurso para a exploração.
Sua obra transcende em formatos diferentes e performance. Nessas zonas de novas descobertas, a arte de Francisco se abre ao emprego de materiais extra-artísticos, muitas vezes de origem natural, e em especial vegetal, o que reforça a dimensão indagadorade seu trabalho, sempre aberto ao diálogo, não apenas como espectador, mas também com a riqueza que aportam à linguagem da arte, a multiplicidade de recursos que o artista emprega, em especial a collage e a ensamblaje, para construir seu discurso visual.
Convidado a apresentar seu trabalho em La Habana no ano de 2006, o artista autocatalogou sua mostra sob a denominação decimarron art. Ao identificá-la assim, Francisco revelava haver encontrado nela seu espaço de liberdade, a maneira dos “fugitivos”. A partir desse lugar simbólico o artista cria e produz em Montmartre. Sua história lhe pertence e como um xamã que conhece os fios mágicos que unem passado e presente, se instala nesse lugar de tantos encontros, no presente onde desenha e pinta seus sonhos e devaneios, suas esperanças e visões. Ao apreciar sua obra, o público se sentirá convocado a compartilhar esses sentimentos desde o lugar que foi criado – no artista e em sua obra – a fina tecitura de “tudo misturado” de Nicolás Guillén, que é síntese de mestiçagem, sons de tambores mulatos e combinação dos sortidos cheiros de um bom “ajiaco”.
Com ânimo sempre aberto, a arte de Francisco encherá de vibrações a sala Wifredo Lam da Embaixada da República de Cuba em França. Esta exposição ali é uma merecida homenagem de cubanidade para quem – por bom cubano – é hoje um símbolo de universalidade, porque explorou os caminhos secretos ancestrais vindos da África e que se fizeram nossos com o passar do tempo na nação que habitamos. A sala se iluminará com a força criativa da arte de Francisco, fiel ao que sente e leal com aquilo que crê.
Cojímar, maio de 2014
Habana - Cuba
Sua obra transcende em formatos diferentes e performance. Nessas zonas de novas descobertas, a arte de Francisco se abre ao emprego de materiais extra-artísticos, muitas vezes de origem natural, e em especial vegetal, o que reforça a dimensão indagadorade seu trabalho, sempre aberto ao diálogo, não apenas como espectador, mas também com a riqueza que aportam à linguagem da arte, a multiplicidade de recursos que o artista emprega, em especial a collage e a ensamblaje, para construir seu discurso visual.
Photos, Francisco Rivero