A quem se sentasse na escadaria e puxasse conversa, Selarón contava sua história com um tom entre vaidoso e bonachão. Nas frases, costumava alinhar o próprio nome ao lado dos de Picasso, Michelangelo ou Gaudí (este era tido por ele como “menor”). Desde a manhã desta quinta-feira, os degraus estão “órfãos”. O homem que enfeitou a Escadaria do Convento de Santa Teresa foi encontrado morto sobre sua obra, que acabou mais conhecida pelo apelido que remete a seu “criador”: Escadaria Selarón.
Desde o início dos anos 1990, motivado pela Copa do Mundo de 1994, o chileno passou a alinhar os azulejos nos 215 degraus que saem da rua Joaquim Silva, na Lapa, e vão dar na Ladeira de Santa Teresa. Segundo ele mesmo, estavam ali mais de 2 mil azulejos vindos de quase 60 países — ele vagou desde os 17 anos, quando deixou o Chile, por 57 países da Europa, Ásia e América até se fixar de fato no Rio, em 1983. Para se manter, também segundo contabilidade dele próprio, vendeu cerca de 25 mil telas que produzia obsessivamente (algo como cinco ou seis por dia), retratando uma figura recorrente, a de uma mulher negra grávida, tema sobre o qual preferia não discorrer muito por “motivos pessoais”.
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