Se me pedissem uma imagem de Bom Jesus, eu falaria da cor da terra e das pessoas que aí vivem.
Tudo isso retém a atenção do viajante. A terra é para o expectador que sou uma fonte de motivação, e assim também são as pessoas que encontrei nesse lugar, repleto de humanidade na vida simples e laboriosa.
A beleza dessas paragens bonjesuenses é proverbial, é só estar atento e afastar a rotina do cotidiano para apreciar as luzes e sombras das paisagens de morros ao redor para aprender.
Me parece que a grandeza desse caráter tão transparente quanto jovial dos moradores de Bom Jesus, sejam eles homens, mulheres, velhos, jovens e crianças, é o que concede ao lugar um ar de cidade amável do interior.
Para fazer as criações dessa exposição, parti de um princípio básico que é capturar a essência das coisas no “instante preciso”, sem estereótipos ou o olhar redutor de um mundo inexplorado em seus valores mais autênticos.
Vendo o ir e vir das pessoas no centro da cidade, me senti convidado a encontrar a chave dessa simpatia derramada em cada gesto dos passantes, apesar de sua modéstia.
Um dos aspectos humanos que as pessoas do chamado “primeiro mundo” não conseguem compreender é essa gestão do tempo que fazem os cidadãos de aqui, e também sua capacidade de amparar sua existência com sorrisos, apesar da vida difícil.
Em meu país natal, Cuba, sua gente também ampara suas vidas com sorrisos como chuva de primavera apesar das carências que as vezes ocorrem, porém não nos verga.
As obras desta mostra foram realizadas com a técnica de colagem, costura e uma tinta preparada a base da terra do lugar, herdeira do culto à forte luz que tudo rodeia, que tudo abarca.
Nada é anônimo ante o tecido de chita, tão expressivo como o detalhe que aflora em planos quase misteriosos de seus desenhos. Posso dizer que nada acaba nos diferentes motivos desses tecidos que decidi revisitar na síntese de sua história passada e presente, apesar de não ser um tecido em moda para uso cotidiano.
Nada mais simbólico para mim que assinalar que a chita e a terra são a presença da mestiçagem racial e cultural dos brasileiros, cujas origens remontam a diferentes pontos cardeais da nação como de outros continentes como África, Europa, Ásia; essa diversidade étnica é como um acontecimento irreversível de um equilíbrio em construção.
Estas obras são uma janela que abro ao desfrute do cotidiano, como a reflexão sobre o futuro ou sobre o passado. Quem sabe?
Se a sinceridade retém o visitante, o artesão que sou agradece a bondade da terra – de onde viemos e para onde iremos de volta – por haver-me permitido esta experiência.
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