Recital de violão de Nilson Mattos

Espaço Cultural Luciano Bastos.

Conhecer um artista como Villa-Lobos ao invés de apenas idealizá-lo é o principal, e escutar suas composições através de um intérprete como Nilson Mattos é ainda melhor.

A emoção da música em um recital de violão no Espaço Cultural Luciano Bastos na cidade de Bom Jesus do Itabapoana foi um grande privilégio para os espectadores.

O programa abrangeu obras de Manuel M. Ponce, Fernando Sor, Francis Cutting, John Dowland, J.S. Bach, Dilermando Reis, assim como uma canção anônima catalã. E não podia faltar neste panorama de luxo Heitor Villa-Lobos.

Deste último muito se há dito e escrito, porém meu interesse se situa em apreciar sua música fora de contextos mundanos das grandes cidades do mundo.

É como apreciar a essência de uma composição musical erudita em harmonia com os elementos da terra, água e ventos do interior, que são uma das tantas fontes de trabalho de Villa-Lobos, o urbano e o rural.

Minha admiração por este artista universal vem do fato de que seu trabalho voltado para o Brasil transcorreu muito antes de seu reconhecimento internacional, se levamos em consideração que em sua época, e como hoje em dia em formas distintas, as elites da sociedade esperam a aceitação gloriosa das chamadas capitais europeias ou norteamericanas da cultura de Londres, Berlim, Paris ou Nova York.

Foi precisamente na "cidade luz" dos anos 20 do século passado que ironicamente o compositor Villa-Lobos se apresentou livre dos modelos europeus que indicavam rumos e destinos bem marcados na criação artística.

Tenho que dizer, em meu modesto modo de ver, que ele teve a inteligência e audácia de confrontar-se com o auditório tanto de público, como da crítica brasileira, nesse fogo cruzado que se dá no próprio território para depois ir mais além de suas fronteiras próximas e distantes.

Recordo que em uma de suas primeiras entrevistas em Paris, em 1923, disse, em coerência com seu trabalho: "Não venho aqui para aprender, venho para mostrar o que fiz".

O recital de violão de Nilson Mattos foi como voltar a mirar de forma simples e generosa o real maravilhoso da criação artística de nossa América.

As raízes populares da música de Villa- Lobos. Detalhe do óleo sobre tela D. Ismaillovich, du década de 1940.

Edgard Varése e Villa Lobos, passagen por Paris. 1923 a 1924.